terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Lélia Abramo atriz e militante política se estivesse entre nós faria hoje seus 100 anos



Lélia Abramo (São Paulo, 8 de fevereiro de 1911 — São Paulo, 9 de abril de 2004) foi uma importante atriz e militante ítalo-brasileira.  A ilha dos imigrantes italianos, Afra Yole Scarmagnan, natural de (Monselice) e de Vicenzo Abramo, nascido em (Torraca), Lelia viveu na Itália entre os anos de 1938 e 1950, tendo sofrido as privações da Segunda Guerra Mundial. Junto aos seus irmãos, o artista plástico Lívio Abramo, Beatriz Abramo, os jornalistas Athos Abramo, Fúlvio Abramo e Cláudio Abramo, faz parte de uma família que teve grande presença na história brasileira, tanto na militância política como na arte. Sua mãe Afra Yole era filha de Bartolomeu Scarmagnan, militante anarco-sindicalista e organizador da greve geral de 1917 em São Paulo. Participou dos primeiros momentos de fundação da Oposição de Esquerda no Brasil, sempre se assumindo como uma simpatizante do trotskismo junto com Mário Pedrosa. Eduardo Maffei, militante comunista registra participação de Lélia na Frente Única Antifascista trocando tiros com os integralistas na Praça da Sé, em 1934. Em suas memórias Lélia afirma ter apenas portado "pedaços de pau" (pg. 54). Lélia Abramo foi também militante e fundadora do Partido dos Trabalhadores, tendo assinado a ata de fundação com Mário Pedrosa, Manuel da Conceição, Sérgio Buarque de Holanda, Moacir Gadotti e Apolônio de Carvalho. Foi uma personalidade presente em diversos momentos da vida política brasileira, como as Diretas Já. Participou de 27 telenovelas, catorze filmes e vinte e três peças de teatro, tendo convivido com grandes nomes do teatro paulista, como Gianni Ratto e Gianfrancesco Guarnieri, com quem estreou nos palcos em 1958 em Eles não Usam Black-Tie. Na TV é lembrada pela matriarca Januária Brandão em Pai Herói (1979), Mama Vitória em Pão Pão, Beijo Beijo (1983) e Bibiana na minissérie O Tempo e o Vento (1985).
Sua militância política custou-lhe a carreira televisiva, pois passou a ser ignorada pela Rede Globo, em razão de ter assumido a presidencia do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado de São Paulo, a partir de 1978, tendo sido a primeira chapa de oposição a tornar-se vitoriosa dentro do período iniciado pela ditadura militar brasileira de 1964. Esta eleição ganhou as principais páginas dos jornais paulistas da época, apesar da intensa censura, tendo como seus companheiros de diretoria Renato Consorte, Dulce Muniz, Cláudio Mamberti, Robson Camargo, entre outros. A editora da Fundação Perseu Abramo lançou sua autobiografia em 1997, intitulada Vida e Arte - Memórias de Lelia Abramo. Antonio Candido descreve Lélia Abramo como uma atriz que "nunca vergou a espinha, nunca sacrificou a consciência à conveniência e desde muito jovem se opôs à injustiça da sociedade. Que sempre rejeitou as vias sinuosas e preferiu perder empregos, arriscar a segurança, sofrer discriminações para poder dizer a verdade e agir com seus pontos de vista…" (prefácio Vida e Arte). Faleceu em 9 de abril de 2004, aos 93 anos, vítima de uma embolia pulmonar.

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