terça-feira, 16 de abril de 2013

Sem voluntários, CVV - RP corta operação 24h


(Escrito por Diarioweb) 
Das 8h às 10h e das 22h à meia-noite. Estes são os horários de maior desespero em Rio Preto. Nesses períodos, a linha do Centro de Valorização da Vida (CVV) sempre está ocupada com pessoas desabafando por solidão, perdas, dificuldades e problemas.
 O horário de aflição era ainda maior - se estendia até as 2h da madrugada -, mas a falta de voluntários interrompeu o serviço 24 horas e agora o centro funciona das 6h à meia-noite. 
Em média, os 17 voluntários atendem 40 pessoas ao dia durante as 18 horas de funcionamento, sendo que metade dessas ligações se concentra nos horários citados da manhã e da noite. Pela manhã, a maior parte das ligações é de mulheres. O horário de pico se explica pela solidão causada, principalmente, em donas de casa casadas e com filhos. Nesse período, as que têm filhos em idade escolar já os deixaram no colégio e os maridos já foram para o trabalho. “É um momento em que a casa já está arrumada e começam a pensar nos problemas,” diz a voluntária Marihá, 69 anos. 
À noite, o motivo do pico de ligações é a falta de companhia e o horário avançado. “Até as 22h qualquer um encontra alguém na rua para conversar ou liga para parentes. Após esse horário, recorrem ao CVV,” disse o voluntário e coordenador Francisco, 49 anos. Para evitar qualquer tipo de contato que não seja o de auxílio pelo telefone, os voluntários pedem que o nome completo não seja divulgado. 
Quem costumava ligar à noite para o 141 era a advogada Ana Carolina (nome fictício), 27 anos. Ela entrou em depressão depois do término de um relacionamento que durou oito anos. Chegou a tomar antidepressivos e ter sessões com psicólogos, mas quando chegava da faculdade, por volta das 23h, a solidão apertava. Era a voz misteriosa do outro lado da linha que a consolava. 
“Ele foi meu primeiro namorado e sofri muito. O pior é que na época eu morava sozinha e por mais que meus amigos insistissem para sair, eu só queria ficar em casa, sozinha, fechada no quarto. Chorava o tempo todo, fiquei sem ânimo para continuar meu estágio e acabei desistindo. Quase fui reprovada na faculdade,” conta. 
As conversas davam forças para ela dormir bem e começar a manhã com um pouco mais de ânimo, mas ao longo do dia a sensação ruim voltava. “As pessoas do CVV ouviam meus desabafos, meus sentimentos e me ajudaram a levantar, a começar uma vida nova. Parte da minha reerguida eu devo a eles.”, conta Ana Carolina, que disse ter ligado mais de 20 vezes ao CVV. 
“Era sempre no fim da noite. Hoje (três anos depois) estou muito bem, com vida nova, namorado novo e bem profissionalmente.” Em geral, as ligações duram de cinco a dez minutos. Mas podem chegar a 80, dependendo da conversa. Nem todos, no entanto, falam. “Muitos ligam, fazem barulho e não dizem nada,” diz Francisco. Nesses casos, o voluntário explica como funciona o atendimento e pede apenas sinais de que alguém está na linha. Muitos começam dessa forma e, depois que ganham confiança, conversam. 
O atendimento realizado pelos voluntários do CVV segue uma filosofia baseada em quatro princípios: aceitação, compreensão, respeito e confiança no ser humano. O objetivo é ouvir e incentivar a pessoa do outro lado da linha a falar. Conselhos não são dados. “Porque será sempre o que achamos importante e fica parecendo que a pessoa não é capaz de resolver determinado problema,” disse a voluntária Marihá. 
Para ajudar, é preciso estar concentrado, focado em ouvir. Os problemas que cada voluntário carrega fica do lado de fora da porta da casa onde o CVV funciona. Há quase um ano, a voluntária Tânia, 59, exercita semanalmente essa tarefa.“É um treinamento constante. Faço meditação e deixo tudo para fora daqui. Nesse tempo, fico totalmente à disposição de quem liga.” 
Autoconhecimento 
Formada em terapia ocupacional, Tânia é casada e se interessou pelo serviço voluntário após ouvir no rádio sobre a falta de pessoas. Tinha curiosidade em saber como era o trabalho e fez o curso. Para a própria surpresa, encontrou mais do que imaginava. “Considero uma terapia, uma troca de conhecimentos em que o voluntário ganha até mais do que a pessoa que liga.” Ela destaca o autoconhecimento como conquista proporcionada pelas conversas. “Eu me sinto melhor e depois penso em atitudes, revejo posições,” disse. O serviço do CVV é gratuito e totalmente sigiloso. Não é preciso informar nome, endereço ou qualquer tipo de informação pessoal. Os telefones são 141 ou 3233-4111. 
Atendimento 
A linha da vida do CVV, que atende 40 pessoas/dia, oferecendo apoio e compreensão, precisa de ajuda. A falta de voluntários fez com que o atendimento, que antes era ininterrupto, passasse para 18 horas diárias. O período da madrugada, que representa pico de ligações, precisou ser cortado. 
Atualmente, são 17 voluntários que se revezam em plantões semanais de quatro horas e meia na única linha em funcionamento. Para que o atendimento volte a ser em tempo integral são necessárias 42 pessoas. O ideal seria a presença de 84 voluntários, para que as duas linhas disponíveis ao centro entrassem em operação 24 horas por dia. 
Para tentar reverter esse quadro, o CVV realiza cursos que selecionam novos participantes. O próximo acontece em junho. Em média, seis pessoas se formam depois das aulas, mas nem todas permanecem como voluntário. Os cursos duram em média dois meses. Podem participar maiores de 18 anos. “O principal requisito é tempo interior, porque é preciso deixar os problemas de lado e pensar no dos outros,” disse a voluntária Marihá, 69 anos. O CVV está há 32 anos em Rio Preto, atendendo todas as cidades do código de área 17. Atualmente, recebe ligações das 6h à meia-noite. Quando funcionava o tempo todo, o número de ligações diárias chegava a 60.



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