domingo, 3 de novembro de 2013

Operação tenta salvar a fauna no rio Turvo


Uma força-tarefa composta por Polícia Ambiental, agentes da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e pescadores amadores e profissionais resgatou quatro toneladas de peixes vivos do rio Turvo durante todo o sábado. 
A mobilização continua por pelo menos até a próxima terça-feira e visa diminuir o impacto provocado pelo melado derramado no rio após um incêndio em um depósito de açúcar em Santa Adélia. 
O melado produzido percorreu aproximadamente cem quilômetros. Depois de passar pelo rio São Domingos, desaguou no rio Turvo na manhã de sábado, por volta das 9 horas. Na ponte que passa pela rodovia Assis Chateaubriand, entre Olímpia e Guapiaçu, o nível de oxigênio chegou a 0 e estava em 0,2 miligramas por litro (mg/l) até o final da tarde de ontem. Doze quilômetros à frente, já em Onda Verde, a oxigenação estava em 2,5 mg/l, quando o ideal é 5 mg/l. 
“A situação é muito complicada porque a substância é solúvel em água. Os peixes estão morrendo por falta de oxigênio. Estamos monitorando a situação e, caso seja necessário, as equipes vão se deslocar para pontos mais à frente do rio,” disse o engenheiro da Cetesb José Mario Ferreira de Andrade. 
Para diminuir a quantidade de peixes mortos, dois caminhões e três caminhonetes com câmaras de oxigenação estão recebendo peixes para serem transportados a outros locais. Para isso, cinco barcos e 35 homens, entre policiais e pescadores, estão trabalhando na captura dos peixes. 
“Vamos soltá-los em um ponto onde o risco de falta de oxigênio é mínimo, já que daqui até lá passam muitas correntezas, pedras e até cachoeira, o que é perfeito para oxigenação,” disse o capitão da Polícia Ambiental, Olivaldi Ferreira, que preferiu não informar o ponto exato para não atrair pescadores ilegais. 
Até sábado, cerca de 20 mil unidades de nove espécies de peixes haviam sido capturadas: curimba, lambari, cascudo, curimbatá, mandi, ferreirinha, piau, tabarana e até dourado. “Essa ação é para remediar, diminuir os danos. Está longe de resolver o problema, mas é o que pode ser feito,” disse Ferreira. 

 Pescadores se unem para ajudar na operação

Para ajudar na captura dos peixes, a Polícia Ambiental e a Cetesb contaram com a colaboração de pescadores da região. Assim que o melado chegou ao rio Turvo, foram feitos contatos com profissionais para o auxílio no salvamento dos peixes. Acostumados com a prática da pesca, a operação de salvamento emocionou. “Pesco há 50 anos e tenho um rancho na região há 30. Me ligaram e vim com gosto. Com choro e tudo. Os peixes estão pedindo socorro e nessa hora temos de ajudá-los,” disse o pescador Valter Paladino, 60 anos, que afirma ter capturado até caranguejo das águas. 
O presidente da Colônia de Pesca de Rio Preto, Alexandre Roberto Ferreira, pensa em quem depende da pesca realizada no rio. “Tenho diversos amigos nessa situação. É de cortar o coração, porque o rio está sofrendo. É triste de ver, principalmente para quem foi criado por aqui.” O pescador Darci da Silva Tavares saiu de Engenheiro Schmitt para ajudar na captura. Às margens do rio, jogava a tarrafa para capturar a maior quantidade possível de peixes. “Pesco direto por aqui e conheço muito bem a região. Até agora, já peguei uns 50 quilos.” 
Como é época de piracema, a Polícia Ambiental manteve a proibição da circulação de barcos pelo rio e alertou para que outros pescadores não tentem ajudar por conta própria. “Já estamos em número suficiente e não estamos deixando outros barcos entrarem na água,” disse o capitão Olivaldi Azevedo, da Polícia Ambiental. Também é desaconselhado a parada no local onde as equipes estão por se tratar de trecho movimentado da rodovia.
A captura foi facilitada pela luta dos peixes pela vida. Com a falta de oxigênio, eles seguiam a correnteza e buscavam a superfície. Com o apoio de puçás e, principalmente, tarrafas, os pescadores faziam a pesca e transportavam os peixes para os caminhões. 
A mancha provocada pelo melado desapareceu da água. “Isso já é um bom sinal, mas é preciso muito cuidado ainda, por isso todo esse trabalho que estamos realizando,” disse o gerente regional da Cetesb, Antonio Falco Júnior. Ainda não havia sido feita o cálculo de peixes mortos, mas o número ultrapassou duas toneladas antes de chegar ao rio Turvo. 
Causa 
O incêndio que provocou o melado foi iniciado na sexta-feira, dia 25 de outubro, em um armazém carregado com 28 mil toneladas de açúcar da empresa Agrovia S/A, em Santa Adélia. A queima do produto misturada a quase 1 milhão de litros de água despejado pelo Corpo de Bombeiros para apagar as chamas produziu um caramelo que escorreu pelas proximidades da empresa e atingiu as galerias pluviais, chegando à nascente do rio São Domingos.


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