segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Mário Soler e seus ESCRIBAS EM APUROS


Em agosto de 1980 aportei no “Diário da Região”, convidado pelo diretor de redação Vislei Bossan, que era também o Mário Luiz. Difícil de entender? Calma, eu explico: Vislei é o nome de batismo do jornalista; Mário Luíz é o nome artístico do radialista esportivo, referência na função, que fez sucesso ao lado do Hitler Fett, quando o América FC ainda era América. Uma só pessoa, dois talentos.
Formávamos uma redação pequena, mas muito ativa: Natalone, Zé Luiz Rey, Beto Lofrano, Lucinha Paglione, Soninha Neves, Rosa Maria Abrão, Antonio Higa, Edson Baffi na fotografia, César Muanis na coluna social, J. Ravache na polícia... (e já me penitencio pelos que não lembrei).
Cada redator escrevia, no mínimo, uma página por dia e dividia com os colegas as demais tarefas da publicação. Assim, além de cobrir assuntos gerais, assumi uma coluna, “Coisas da Vida”, espaço em que perturbei o leitor, diariamente, até migrar para a mídia televisiva.
Lá se vão 35 anos. Hoje, testemunho o dilema dos colegas da nova geração de jornalistas. O mundo e as tecnologias de produzir e difundir informação mudaram radicalmente. Pequenas e grandes redações se debatem, buscando o rumo certo. A receita? Não tenho.
Mas, por mais que mudem os tempos e jeitão de fazer jornalismo, as velhas pautas estão sempre à mão pra socorrer um escriba em apuros. Elas surgem logo nas primeiras horas do ano novo, com a cobertura do nascimento do primeiro bebê - repare que ninguém, a não ser a família, vai se lembrar dessa criança nas décadas seguintes.
Logo, chegam os vestibulares com seus candidatos atrasados, aos prantos, batendo a cara no portão. E aí vem o carnaval e é possível escrever aquela reportagem descolada sobre o desfile de rua, com frases criativas, como “não faltou animação”, “a escola entrou com muito samba no pé”, “foi um grande espetáculo de cores”, “a ala das baianas girava em harmonia” (salvo engano, girar deve ser a principal função delas, não é Serroni?).
Tem assunto na gaveta também para o repórter esportivo. Na pré-temporada, ele pode publicar as fichas dos novos reforços de Rio Preto e América. E como elas são extensas! “Chiquinho, primeiro volante, ex-Garça, ex-Novorizontino, ex-Luversense, ex-Itapipoca, ex-Atlético Cajazeirense, ex-Ibis...” E vai por aí.
Por falar em futebol, certa vez li que um jogador “chuta com os dois pés”. Com meus limitados conhecimentos de bola, nunca consegui realizar tal façanha. Era um pé de cada vez, ou caía. Durante o ano o escriba tem ainda a opção de cobrir os feriados prolongados e aferir o movimento nas nossas estradas; registrar aniversários de cidades e de morte de pessoas ilustres.
Encerramos dezembro com as tais retrospectivas, uma espécie de liquidação do ano findo. Aí vale um pouco de tudo: recorrer aos números de desempenho da indústria, agricultura e comércio, reviver a performance dos times de futebol, resgatar quem nasceu e quem partiu, reviver os casos policiais escabrosos.
E com tantas opções, se ainda assim a coisa apertar, aqui vai o conselho de um veterano: tire da gaveta aquela pauta amarelada sobre as profissões em extinção: ferreiro, seleiro, charreteiro, sapateiro. Afinal, produzir é preciso.

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