domingo, 3 de fevereiro de 2013

Mas o quê têm a ver Boate Kiss e Zyklon-B?


Considero indelicado e inoportuno elocubrações que abusam da interpretação da Lei de causalidade ou 3ª lei de Newton (Ação e Reação) para compreender ou justificar a fatalidade de Santa Maria/RS. É claro que nos encontramos vivendo em mundo fenomênico que é impulsionado pela complementaridade diretora do chamado processo cármico, do sânscrito karma, que é sinônimo da Lei de Causa e Efeito. Porém, as coisas não são tão simples e diretas assim como passaram a pipocar certas insinuações nas redes sociais, e o bom senso recomenda não tirar conclusões precipitadas.
Mas o que me chamou a atenção foi ter identificado imediatamente, quando durante o meu plantão médico, ouvi as primeiras notícias, na madrugada do acidente, quanto à possibilidade da presença do cianeto na causa mortis dos jovens da Boate Kiss, o que foi de fato confirmado pelo depoimento do meu ex-professor Dr Anthony Wong, diretor médico do Ceatox -Centro de Assistência Toxicológica do HC/USP- à "Folha de São Paulo" em 30/01/13-C5.
O gás cianeto, inodoro e invisível, foi liberado pela combustão da espuma barata de poliuretano usada no revestimento acústico da boate, sendo um dos venenos mais letais, levando à morte em 4 a 5 min. No final da cadeia de elétrons que é responsável pela respiração celular dentro das mitocôndrias, o cianeto se liga de maneira irreversível na molécula de Ferro+++ do Citocromo-c- oxidase, paralisando o processo respiratório intracelular ao impedir a transferência do elétron para o oxigênio. Pior ainda é que o cianeto apareceu junto com a fuligem e com o monóxido de carbono (CO), que por sua vez se liga fortemente ao Ferro++ da Hemoglobina, que assim não consegue transportar o oxigênio pela corrente sanguínea. Daí a explicação para tantas mortes ocorrendo tão rapidamente.É sabido que a matéria prima do cianeto foi utilizada inicialmente para a fabricação de um pesticida à base de ácido cianídrico, cloro e nitrogênio, que foi desenvolvido para matar piolhos e prevenir tifo, e era fabricado em 1924 pelas empresas alemãs Degesche e Tesch, sob licença da Ig Farben. Porém, a partir de setembro de 1941, durante a 2ª Guerra mundial, este produto passou a ser utilizado para assassinatos em larga escala de humanos, estreando exatamente no campo de concentração de Auschwtiz, agora sem o odorizador obrigatório para denunciar sua presença e com o nome comercial Zyklon-B.
Auschwitz foi uma fábrica de horrores comandada por Heinrich Himmler, temido chefe da SS e representa o símbolo do holocausto nazista, onde foram mortos mais de 1.000.000 de judeus com o recurso de canalizar cianeto nas tubulações dos chuveiros a que eram conduzidos para banho coletivo. Neste ponto comum do passado e presente recente, estes dois universos infernais se encontram e têm tudo a ver: ambos foram vítimas do sinistro, traiçoeiro e impiedoso gás da morte...
Quando o exército russo conseguiu finalmente colocar um fim a Auschwitz, encontrou apenas cerca de 10.000 prisioneiros, que pesavam entre 23 a 35 kg !! E por estas inexplicáveis coincidências ou simetrias históricas, se tratava de fato, da noite de 27 de janeiro de 1945, o abençoado dia em que a liberdade, talvez já demasiado tarde, finalmente chegava para o que restara destes pobres espectros de seres humanos... Estes são os fatos e extrapolar com especulações mirabolantes, dando asas à imaginação fantasiosa, é tudo o que não precisamos neste momento tão triste e difícil. (DR. Renan Marinho) 

2 comentários:

OLHAR CIDADÃO disse...

Bom dia

Existe uma tendência, em fazer associações precipitadas, do que se chama causa e efeito / ação e reação, procurando ver em tudo, e em todos, uma fatal e inexorável manifestação hoje, de situações ocorridas em encarnações anteriores. Assim, para os que não conhecem a Doutrina Espírita, por exemplo, em sua profundidade, quem está privado da visão hoje é por que em outra vida fez mau uso desse sentido.

Vão por aí, uma série de enganos, visto que, se na visão Doutrinária Espírita, o hoje é, em grande parte, resultado do ontem, de forma nenhuma isso autoriza ou fundamenta que se veja assim de maneira tão simplista e distante da grandiosidade da Misericórdia divina e da sua obra, a forma como a Lei de Deus nos proporciona possibilidades de resgate, reparação, reforma, reinício.

Em relação ao incêndio da Boate Kiss, devemos no meu entendimento, primeiro orar muito por todos os que estão diretamente ligados ao fato (vítimas, familiares, amigos e responsáveis), depois compreender que nos chamados 'resgates coletivos' encontra-se o chamamento mais eficaz para as mudanças de rumo e avanços da humanidade, incluindo aí a revisão de conceitos comportamentais e até os avanços da ciência.

Se nos é, sob a ótica da imortalidade da alma, muito útil o conhecimento de que a semeadura é livre, mas, a colheita é obrigatória, nenhuma utilidade existe em ficar procurando esmiuçar e 'determinar' de que forma esta colheita se dá, nos caminhos dos nossos companheiros.

Ao menos em momento tão grave,sejamos responsáveis e equilibrados,cuidando da forma como falamos e abordamos assunto tão delicado.A 'perda' (separação) de entes queridos é sempre dolorosa, principalmente quando se trata de filhos e de jovens. Não temos o direito de, a pretexto de nossas convicções, aumentar o sofrimento de tantas pessoas com afirmações que só em outro nível, podem ou não se confirmar.

Um fraterno abraço,

com as desculpas pelo tamanho do comentário.

Anônimo disse...

Perfeito